<$BlogRSDURL$>

um blog de desabafos, alegrias e tristezas, revoltas e euforias, o meu espelho, com uma (agora) pitada de diletantismo.

terça-feira, julho 19, 2005

Como diz a Mamã, entrei nos "intes" 

Clichés, tradições, sorrisos, palavras, telefonemas, mensagens, presentes, surpresas, família, amigos, atenção. CARINHO. Seja de quem for e de que forma for, vejo hoje o carinho transmitido, e com isso (re)encontro o meu equilíbrio. Os dias que andavam nublados, esqueço-os hoje, quando por acaso o sol decidiu aquecer um pouco mais - o que nem é habitual. Com a proximidade do dia convenci-me que não queria comemorar. Agora tenho uma certa vergonha. Ainda só passou metade do "meu" dia e já me apercebi que tenho tudo para sorrir, não posso ser injusta só porque me sinto injustiçada "pré-profissionalmente". Desculpem aqueles que tratei mal por esse capricho. Se o "meu" dia acabasse agora, já me sentiria feliz e mimada o suficiente. Não há sensação melhor do que esta de ver os que se lembram de mim com um apreço sincero. Daí que tenha aberto esta janela para escrever, para agradecer, sem precisar de inspiração especial ou de um pouco mais de disponibilidade. A vida é curta. Hoje, que a minha idade arredonda, lembro-me disso. Não, não estou velha, nem tenho saudades do passado, nem ansiedade pelo futuro. Cada dia é para ser vivido com dedicação, sem excessos nem limitações. Bom, gostava de voltar à idade em que, na creche, fazia chichi no divã à hora da sesta e me agarrava à saia da Mãe quando disso me apercebia; gostava de voltar ao meu primeiro dia de aulas, aos dias da criança em que me deleitava com uma nova caixa de lápis, aos passeios na antiga marina de vilamoura onde comia gelados; gostava de puxar os cabelos à minha irmã como em pequena, de viajar com os meus Pais de avião; gostava de voltar às paixões do 3.º ciclo, ao vólei, às primeiras saídas à noite; gostava de voltar a sonhar com a média para ingressar na Faculdade. Gostava de voltar a tantas outras coisas... Mas sei que tiveram o seu tempo. Tal como o futuro, pelo qual não anseio, apenas espero. Hoje muitas das vivências passadas se desvaneceram da realidade, mas nunca da memória. E hoje só tenho de agradecer por essa memória não me falhar e poder lembrar tudo o que de bom me proporcionaram. Sim, os outros, da família aos amigos, aos colegas, aos desconhecidos, até aos inimigos. São todos eles que fizeram o que sou hoje, com virtudes e defeitos, com experiência ou não, maturidade ou não, muita coisa não sei, mas de uma coisa estou convicta: tenho todas as razões para ser feliz. E agradeço a todos por isso. Se ontem lamentava ter nascido onde nasci, hoje arrependo-me de o ter dito; porque sou feliz hoje, aqui, com os que conheço, com o que tenho, com o que sei... com o que sou. Um Obrigada muito sentido a todos "aqueles" que sabem quem são.
|

segunda-feira, julho 18, 2005

entre o Pe. Francisco Nunes e o menino Afonso 

"Sabes, o Schopenhauer via o mundo como uma coisa cruel, um local de sofrimento em que para viver e' preciso matar. Por exemplo, a todo o momento os animais estao a matar outros animais, sao milhares e milhares de mortes por segundo em todo o mundo. Vae victis. Para que um u'nico animal carni'voro viva durante um ano, uma centena de animais tera' de morrer de modo a alimentar esse u'nico sobrevivente. E para que um u'nico animal herbi'voro viva durante esse mesmo ano, muita vegetacao tem de morrer para lhe dar de comer. Por outro lado, as pro'prias plantas vivem 'a custa do apodrecimento da carne dos animais e dos resos das outras plantas. Ou seja, a vida alimenta-se de muita morte. Dura lex sed lex. Schopenhauer achava que o mundo dos homens obedece 'a mesma lei, os seres humanos vivem uma vida de sofrimento em que os homens sao escravos das suas necessidades e desejos. E'uma vida feita de violencia, de frustracoes, de dor, de doencas, de medo, de escravidao, de luta, de vito'rias efe'meras e derrotas permanentes, e' um processo de perdas constantes e sucessivas, e o pior e' que tudo isso acaba sempre mal, a vida termina invariavelmente com a perda final, a morte, na nossa existencia nao ha' fins felizes."
- Considera isso verdadeiro?
"De certo modo", disse o mestre. "Viver e' sofrer. E o que e' mais curioso e' que, apesar de ser um constante sofrimento, nos agarramo-nos 'a vida com todas as nossas forcas, como se fosse o maior tesouro, a coisa mais preciosa. Mas a vida esta' sempre in articulo mortis. Ela foge-nos, escapa-se-nos como agua entre os dedos, morremos a cada respiracao, a cada palavra, a cada olhar, momento a momento encurta-se a distancia que nos separa do nosso fim, nascemos e ja' estamos condenados 'a morte. A vida e' breve, nao passa de um instante fugaz, de um brilho efe'mero nas trevas da eternidade."
in A Filha do Capitão, José Rodrigues dos Santos
|

Cobaias da História 

"Estou... podia falar com a Dra. Helena Miranda? É a filha...", dizia eu em tom envergonhado para uma recepcionista. Tinha trocado uma moeda de cinquenta escudos para gastar naquela cabina telefónica do Colégio. Tinha trazido a agenda de papel perfumado onde, na página "C", descobri o número da Clínica... e ali estava, agarrada ao auscultador, naquele hall de entrada que ainda não ofuscava com tanto vidro, que ainda era modesto. A cabeça dava-me pelo orifício por onde saía o troco do telefonema (sim, porque ainda havia troco, as chamadas não eram assim tão caras) e eu sentia-me pequenina. Daquela vez estaria provavelmente a pedir à Mãe que me fosse buscar ao Colégio porque estava mal-disposta...
Uns anos mais tarde, a oferta era maior. Podia ligar, já mais desinibida, para um centro onde pedia uma chamada "a pagar no destino". A cabina já não me parecia tão grande, aliás eu forçava-me a parecer mais adulta, ligando à Mãe para avisar que ia almoçar fora do Colégio. Quando o recado era da Mãe para mim, eu estaria sempre avisada, porque me acompanhava um "bip" verde escuro preso ao cinto das calças...
A era do telemóvel chegou com subtileza, primeiro nos carros, depois nas malas GRANDES das senhoras - já que se tratava de autênticos tijolos. Uma operadora, duas operadoras, três operadoras... chamadas, mensagens escritas, namoros começados por uma SMS, publicidade enjoativa com jovens vintões bonitos, já não se sai à noite sem avisar os Pais pelo bendito telemóvel, já não se sai à noite sem medo de ele ser roubado. Sim, os telemóveis são caros, mas a sua utilização ainda mais. O último grito foram as MMS, as câmaras digitais incorporadas no pequeno aparelho e agora até a "terceira geração" - um dia destes tenho de filmar as discotecas onde estou para que a minha Mãe veja que (não) estou em segurança...
Desde comunicar o essencial, como a urgência que tinha em que a minha Mãe me apanhasse no colégio, até "mostrar o que quero dizer", totalmente dispensável (note-se que em situações cruciais nunca há saldo nem bateria nos pequenos aparelhos), o certo é que nos tornámos dependentes de objectos com milímetros de comprimento e de largura. Mais, se um dia tive medo de uma caixa grande e fria com verdadeiro aspecto de telefone, hoje sinto pavor das pessoas que passam por mim na rua com uma mola presa à orelha a falarem para o nada e a gesticularem como se fossem extraterrestres loucos vestidos de terno e gravata.
Não fosse eu uma estudante de comunicação e uma crítica veemente da época onde resolveram fazer-me nascer, fica mais um desalentado e pobre comentário. Gostava tanto de viver na era dos pombos-correio...
|

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com