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um blog de desabafos, alegrias e tristezas, revoltas e euforias, o meu espelho, com uma (agora) pitada de diletantismo.

segunda-feira, julho 18, 2005

Cobaias da História 

"Estou... podia falar com a Dra. Helena Miranda? É a filha...", dizia eu em tom envergonhado para uma recepcionista. Tinha trocado uma moeda de cinquenta escudos para gastar naquela cabina telefónica do Colégio. Tinha trazido a agenda de papel perfumado onde, na página "C", descobri o número da Clínica... e ali estava, agarrada ao auscultador, naquele hall de entrada que ainda não ofuscava com tanto vidro, que ainda era modesto. A cabeça dava-me pelo orifício por onde saía o troco do telefonema (sim, porque ainda havia troco, as chamadas não eram assim tão caras) e eu sentia-me pequenina. Daquela vez estaria provavelmente a pedir à Mãe que me fosse buscar ao Colégio porque estava mal-disposta...
Uns anos mais tarde, a oferta era maior. Podia ligar, já mais desinibida, para um centro onde pedia uma chamada "a pagar no destino". A cabina já não me parecia tão grande, aliás eu forçava-me a parecer mais adulta, ligando à Mãe para avisar que ia almoçar fora do Colégio. Quando o recado era da Mãe para mim, eu estaria sempre avisada, porque me acompanhava um "bip" verde escuro preso ao cinto das calças...
A era do telemóvel chegou com subtileza, primeiro nos carros, depois nas malas GRANDES das senhoras - já que se tratava de autênticos tijolos. Uma operadora, duas operadoras, três operadoras... chamadas, mensagens escritas, namoros começados por uma SMS, publicidade enjoativa com jovens vintões bonitos, já não se sai à noite sem avisar os Pais pelo bendito telemóvel, já não se sai à noite sem medo de ele ser roubado. Sim, os telemóveis são caros, mas a sua utilização ainda mais. O último grito foram as MMS, as câmaras digitais incorporadas no pequeno aparelho e agora até a "terceira geração" - um dia destes tenho de filmar as discotecas onde estou para que a minha Mãe veja que (não) estou em segurança...
Desde comunicar o essencial, como a urgência que tinha em que a minha Mãe me apanhasse no colégio, até "mostrar o que quero dizer", totalmente dispensável (note-se que em situações cruciais nunca há saldo nem bateria nos pequenos aparelhos), o certo é que nos tornámos dependentes de objectos com milímetros de comprimento e de largura. Mais, se um dia tive medo de uma caixa grande e fria com verdadeiro aspecto de telefone, hoje sinto pavor das pessoas que passam por mim na rua com uma mola presa à orelha a falarem para o nada e a gesticularem como se fossem extraterrestres loucos vestidos de terno e gravata.
Não fosse eu uma estudante de comunicação e uma crítica veemente da época onde resolveram fazer-me nascer, fica mais um desalentado e pobre comentário. Gostava tanto de viver na era dos pombos-correio...
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