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um blog de desabafos, alegrias e tristezas, revoltas e euforias, o meu espelho, com uma (agora) pitada de diletantismo.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

A minha política 


Política. Coisa difícil de definir. Vasto demais. Políticos, vagos demais. Povo gritante mas oco. Ricos despreocupados. Não sei. A revista Visão retrata a geração dos jovens como individualistas mas generosos, dependentes da tecnologia e abstencionistas. Talvez esta caracterização justifique este meu desabafo.

Por um lado é agradável e até certo ponto útil que surjam estas situações. Conjunturas, campanhas e eleições levam jovens e adultos a conversar (ou a discutir) sobre temas variados mas incontingentes. Sobretudo temas incutidos. Por que tem de ser assim?

Sempre detestei e cada vez abomino mais as burocracias. Neste tipo de circunstâncias elas também são visíveis, mas se reflectirmos bem, a burocracia que nasceu depois da Revolução Industrial não foi a primeira. Tudo isto foi concebido muito antes e muito subtilmente... e hoje conformamo-nos com estes processos já tão naturais.

Tenho de ter um nome completo, no mínimo com três palavras: o que escolheram para mim, o que pertence ao meu Pai e o que pertence à minha Mãe. Preciso de alguém que tenha registado este meu nome quando eu mal abria os olhos e nem sabia que existia. Preciso igualmente que alguém decore, ou escreva, enfim registe (palavra de ordem nas sociedades actuais) a hora, o dia, o mês, o ano em que nasci, para que eu saiba o exacto dia em que completei 18 anos de vida e assim possa exercer certos direitos e deveres enquanto cidadã. Com 18 anos tenho de me dirigir a um local específico, dar o bilhete de identidade que me obrigam a ter sempre comigo, com dados que me dizem respeito, para assim poder receber um simples cartão com um simples número que então me pertencerá. Com ele poderei ir, nas datas que pré-estabeleceram, a um local novamente pré-estabelecido, para escrever uma cruz num dos quadrados de um conjunto limitado e pré-estabelecido.

É basicamente a identificação. É um processo quase inferiorizante, na minha óptica. Não sou vegetariana mas tenho muito respeito e muita estima pelos animais, só que dá ideia que esta identificação forçada que nos colocam à nascença se assemelha a um bicho do gado que tem de ser apontado com determinadas características. Querem personalizar-nos, mas não deixamos de ser todos iguais. E no final de contas, se não temos connosco um papel oficial que diga "quem" somos, no meio desse gado, não podemos exercer determinadas tarefas, umas opcionais e outras obrigatórias, mas todas inventadas (quaso que admito) desnecessariamente por esta sociedade robotizada.

Recuando um pouco, ter dito que podemos a dada altura ter o famoso cartão de eleitor altera a tensão do ar de muitas situações. Muitos sentem (não todos, definitivamente) a responsabilidade de se informarem, mas poucos destes "muitos" se preocupam com a isenção e o profissionalismo daqueles que os informam. Assim, há sempre os que falam sem saber, há os que sabem um pouco mais e por isso sentem-se no erróneo direito de dizerem "é muito simples: bla bla bla", há os que votam sem saber a história daqueles em quem votam (e por vezes até o nome... o famoso nome que os identifica), há os que votam em x porque ouvem que é nesse x que a maioria vai votar... e, fundamental e gravissimamente, há aqueles que julgam poder queixar-se quando não se preocuparam em votar. No fim da história acusam-me de arrogante, como se não pudesse considerar todos estes "muitos" como ignorantes. Esta inevitável comparação também é involuntária e faz parte dos hábitos que fomos aceitando, porque se uns sabem mais que outros é porque tiveram uma melhor oportunidade de obedecer à imposição que nos fazem quando dizem que temos de ser cultos...

Entre cultos e cultos, entre ignorantes e ignorantes, entre cultos e ignorantes estabelecem-se debates, discussões acesas, conversas ocas muitas vezes. Ideias, medidas, viabilidades, ambições pessoais sobrepostas às necessidades sociais... ângulos de visão muito limitados, julgo que é esse o erro. Talvez assim alguém admita que os jornalistas têm uma posição louvável, quando pretendem ouvir todas as vozes e permitir assim que cada um escolha uma. Eles, provavelmente, adquirem uma opinião mais tolerante e rejeitam o fanatismo, esse grande culpado. Sim, porque garantidamente é paradoxal o militante da direita ser cristão ou o militante da esquerda ser preconceituoso. Eles confrontam-se individualmente com "grandes questões actuais" e esquecem-se de alguns dados garantidos, porque ficam obcecados com aquilo que se propuseram defender. Gostam de falar em meu nome, do dia em que eu nasci, em que passei a ser gente passível de ser registada, e na volta a minha Mãe não me poderia ter abortado porque dentro da barriga dela eu afinal já existia e era gente. Não se pode ser radical assim. Claro, é preciso não esquecer que só há a direita e a esquerda, ambos não poderão governar o gado em simultâneo - e o gado, domesticado, aceita isso. Nunca permitirão que no papel dos quadradinhos sejam incluídas algumas linhas em que cada número de pertença ao gado possa dizer o que gostaria de ver realizado, como se sente neste mundo, neste país, neste escalão etário, nesta classe social, nesta "situação". Como tal, nunca surgirá nenhuma pessoa disposta a ler cada uma dessas linhas com total atenção, dedicação e vontade de as pôr em prática. De igual modo, serão sempre poucos os números de gado que se preocuparão com os problemas dos outros números, porque, recorde-se, o nosso número é só um, tal como o nosso cordão umbilical. É só esse que nos importa...

De um modo geral, confronto-me com aqueles que não concordam comigo e com quem eu não concordo. Porquê? Partirá tudo necessariamente desse umbigo, dessa ligação a uma família, identificada ou não, que nos oferece educações diferentes, princípios diferentes, e assim nos provoca opiniões diferentes? Por que terei eu de me diferenciar um pouco dos ignorantes que não tiveram a oportunidade de calar essa ignorância? Do mesmo modo, por que terão eles de detestar os que têm mais do que eles, como se a inveja os impossibilitasse de lutar pela ascensão? Será que é mesmo o dinheiro que move tudo isto? Assusta-me admitir isso, mas creio que esse é e sempre será, efectivamente, o grande mal. Eu, enquanto número representante deste gado, como qualquer um poderia sê-lo, sinto uma realidade clara. Obrigam-me a precisar de dinheiro, simplesmente. Acham que devemos estudar e ser cultos, para que possamos querer ter filhos, poder dar-lhes de comer, e também obrigá-los a estudar para que ganhem também dinheiro para que possam cuidar dos nossos netos e colocar-nos, os Pais, um dia, num lar. Precisamos de emprego para ter dinheiro toda a vida, para no fim podermos ter uma reforma, do valor e na idade que uma determinada pessoa decidir - graças às cruzes nos quadradinhos - e com ela continuarmos a viver, a ir ao médico, a passear. O problema é que, enquanto pensávamos em direccionar o nosso quotidiano para esta vida pré-determinada, pensando no futuro para que tudo acontecesse nos conformes, o governo das cruzes não se preocupou com a estrada e o seu código (nada como um código para representar uma sociedade de números...) e assim, num acidente de automóvel ou com uma doença urbana, típica desta vida macaca que rompe com os efeitos "actimel", morremos mais cedo do que acreditámos que fosse acontecer. E no fim da vida, será que fizemos o que queríamos ter feito ou limitámo-nos a fazer o que quiseram que fizéssemos?

A História criou necessidades desnecessárias para a vida social. Para quê TER de fazer tanta coisa? Quando, no Império Romano, há milhares de anos atrás, se pensou que a vida deveria servir uma ordem, ninguém imaginava que essa ordenação fosse tornar-se uma obsessão. E, mesmo olhando um passado mais recente, é facilmente detectável o espírito do conformado, daquele que culpa os outros, daquele que acha que não tem obrigação de fazer nada. Esquecemo-nos da luta que se travou para que o poder absoluto fosse abolido e que nós, o gado, pudessemos decidir alguma coisa. E hoje, porém, chegou-se ao ponto de pedir ao gado que fale, que vote, porque deve exercer o direito que os nossos antepassados tanto lutaram por ver erguido. Hoje, não, não quero saber, eles que façam, isto já não muda... mas quero ter o meu dinheiro, os meus direitos, a minha felicidade garantida; não preciso de lutar por ela, porque é um direito meu, satisfaçam-mo.

Cansa este egocentrismo, esta irresponsabilidade, esta ausência de vontade para ultrapassar obstáculos e vencer na vida para, um dia, poder dizer "consegui". "Conseguimos", disse ontem o outro, o identificado como o que mandará em mim e no meu futuro. Conseguiu, de facto. Conseguiu o seu poder, conseguiu que ninguém decidisse por ele, até conseguiu a oportundiade para mudar este espírito, mas na verdade não o fará, porque o poder pelo poder foi a sua ambição, será o seu número de gado no quadro dos poderosos, um número a "bold" que se destacou por não nos ter posto, a todos, também a "bold".

Continuemos então nesta evolução miserável, nesta vontade de enriquecer com substâncias inventadas que hoje julgamos imprescindíveis. Continuemos a lutar por aquilo de que nunca precisámos quando, outrora, eramos felizes com "amor e uma cabana", com uma fogueira, uma peça de roupa e uma refeição modesta por dia. Assim, continuemos a tratar mal o nosso Mundo, a destruir a casa que nos acolheu, a transformar o verde em castanho, o azul em preto, a substância em nulidade. E os nossos filhos, também pertencentes a este gado, sofrerão os males das nossas decisões, dos quadradinhos e das cruzes de hoje, porque lembrar-se-ão que precisam de uma refeição modesta por dia e não haverá mais o animal para comer nem a água para beber. Pelos vistos só nos interessa mesmo o nosso umbigo e já nem sequer os vários que ramificam a nossa árvore genealógica...

Caramba, serei excêntrica, comunista, lunática por pensar assim? Também um destes adjectivos constará do meu Bilhete de Identidade, do meu Cartão de Eleitor, das Bases de Dados em que consto pelo Mundo fora, do meu número de gado? Não dará, simplesmente, para viver? Ou por outra, o que é afinal Viver, ou Viver Hoje?

Ninguém me responderá... e sei que continuarei a ser, eternamente, uma ovelha no rebanho... no gado inteiro... |

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Dia de São Valente 

"Ah, valente!...", costuma dizer o meu Pai em jeito de felicitação.

Pois é, valentes são os que arriscam em namorar. O meu Pai tem outros critérios para felicitar alguém (e faz muito bem), em todo o caso eu acho natural felicitar os valentes que namoram.

Adoro apaixonar-me. Adoro a fase do frio na barriga, sim, do nervoso quando o telemóvel anuncia nova SMS. Adoro estar com ele quando está tudo na fase da incerteza, adoro sentir que alguém pensa em mim com frequência.

Também adoro, claro, quando sinto aquela estabilidade para dizer que TENHO namorado... o MEU namorado. Adoro agarrar-me a ele no cinema, adoro olhar para ele, adoro telefonar-lhe, adoro escrever-lhe cartas, adoro sonhar com ele.

Só não adoro chorar no fim, qual conto-de-fadas que não existe nunca e traz sempre um pretexto para que me digam "já não quero mais". Não gosto disso, de todo. Não gosto de chorar na almofada, não gosto de acordar e lembrar-me que é real, estou sozinha, não quero levantar-me para um novo dia. Não gosto de insistir para não obter uma resposta carinhosa, ou pelo menos digna do esforço que sempre faço. Mas sobretudo detesto sentir-me assim, caprichosa, fraca, cega perante os problemas reais da vida que são TÃO mais do que um namoro que chega ao fim.

De qualquer modo... sim, sinto pena, uma tristeza miudinha e muita nostalgia. Lamento imenso nunca ter conseguido manter os meus amores, as minhas paixões, os meus caprichos... aquilo que não sei ao certo o que é, porque embora forte, sempre me abandona.

Posto isto, parabéns àqueles que o conseguem... e são felizes! E para aqueles que dizem que este é um dia como qualquer outro, eu subscrevo, mas adianto que não deixa de ser sugestivo a estas reflexões!... Quanto mais não seja porque este blog prima muito pelo espírito depressivo...

E então eu por cá fico, namorando o aconchego da minha almofada, namorando o meu coelhinho e a minha caturra (não há nada mais meigo que eles), namorando os meus pensamentos...

Namorando-me. Às vezes é disso que preciso. |

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