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um blog de desabafos, alegrias e tristezas, revoltas e euforias, o meu espelho, com uma (agora) pitada de diletantismo.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Um papel e uma caneta... um monitor e um teclado 

O tempo, esse universo que nos domina e nos faz mover sem permissão para divagar, tem-me roubado o despejo da inspiração. Saturei, rendi-me e concluí: não vivo sem as palavras.

Recordo a minha infância, quando me ofereceram um quadro com giz. Lembro-me de como ficava enraivecida por não saber escrever e rabiscava no quadro o resultado dessa frustração. Riscos e riscos... Riscos que compensei mais tarde em perfumados diários com cadeado, em folhas soltas escritas por casa e pela escola (nos dias tristes), em folhas de avaliação que me faziam sonhar com o futuro que traço hoje (assustada), em diários simples nos quais descrevi todos os meus dias sem excepção, durante cinco anos...

Riscos que hoje não permitem que me solte tantas vezes, em riscos orais e riscos escritos. Tantas vezes esse tempo leva a minha mão a escrever o que não quero, que não me apetece!... E tantas vezes escrevo o que quero, soltando o que aprendi naquilo que não queria ter escrito...

Nos dias de hoje somos forçados a não escrever. Somos forçados a gesticular os dedos de duas mãos, ainda que eu tenha sido sempre destra, sobre este teclado frio e incolor. Não olho porém para ele, porque escrevendo não se olha para a caneta e sim para o papel, para as palavras que surgem em instantes. Olho para esta tela, este rectângulo em que as letras e as palavras são todas iguais, "standard", todas impedidoras de mostrar as letras redondas que escrevo quando falo de amor, as letras desalinhadas que escrevo quando falo de ódio... nada mostra o papel vincado pela força com que despejo a raiva no papel... em riscos...

Mas o tempo assim o quis, o tempo assim transformou as coisas. Não é por isso que deixo de falar sobre o amor e o ódio, escrevendo ou teclando... porque escrever é cada vez menos um acto isolado. Então escrevo e teclo com a alma, deixando que os outros descubram onde há vincos, onde há letra redonda ou desalinhada...

Porque escrever é difícil... e ler o que se escreve, ainda mais.

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