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um blog de desabafos, alegrias e tristezas, revoltas e euforias, o meu espelho, com uma (agora) pitada de diletantismo.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Sensação ambígua 

Finalmente de férias. Finalmente motivada na faculdade, finalmente empenhada e agora finalmente cansada. Tinha saudades de me sentir útil, assim. Com esta sensação de mérito compensado (embora ainda sem saber as notas) que me permite gritar "finalmente!" por uns dias.

O Natal, na sua extensão entretanto alargada a dois meses em vez de dois dias, foi surgindo. Só agora porém posso parar para observar tudo, planear passeios na baixa, fazer contas para poder dar presentes a toda a gente, sentar-me à secretária e escrever um postal para os que estão longe e que estimo.

Tudo se repete e, aparentemente, se algo muda, é para pior. Cansam os anúncios dos telemóveis de terceira geração, com a beleza da neve e a cor das roupas que ninguém usa. Cansa a maldade (como lhe hei-de chamar?) daqueles que se aproveitam das palavras doces e infantis próprias desta época para as adaptarem aos slogans da Worten. Cansam as festas televisivas nos hospitais e nas prisões, que insistem em associar a beleza de espírito às estações com o objectivo último de subir as audiências. Pelo menos a ingenuidade de algumas vítimas nesses locais não lhes permite aperceberem-se da hipocrisia à sua volta.

Acredito que cada um de nós sinta individualmente o espírito desta época, com um sorriso sob um nariz encarnado do frio ao passear nas ruas iluminadas. O ambiente geral é no entanto muito diferente. Os sem abrigo continuam a existir e a viver sem abrigo, os doentes continuam doentes; e confundem-se quando se sentem felizes pelo apoio e tristes por ele só aparecer uma vez por ano.

Também eu queria fugir a estas convencionalidades. Queria ser como o meu Pai, do qual tenho tanto orgulho, em não dar nada a ninguém senão às 3 pessoas que mais ama na vida. Não passa mal visto por isso, porque se empenha em tantas outras coisas importantes. Mas também queria ser como a minha Mãe, de quem tenho o mesmo grande orgulho, em ter mais prazer em dar do que em receber. Em cansar-se para ser retribuída com um sorriso feliz das filhas, recordando-se do coração palpitante delas quando sentiam o Pai Natal a chegar pela varanda.

Hoje em dia já estou na idade em que sou invadida de sensações múltiplas, ora alegres, ora revoltadas, ora preocupadas, ora ainda um pouco infantis. Este ano terei comigo três elementos mais novos e queria ajudá-los a permanecerem nesse tempo em que o Natal ainda parece puro. Queria transportar para eles um sorriso... e queria que ele fosse sincero. Porque nestes tempos em que já sabemos tanta coisa de que antes nos poupavam, sentimo-nos perdidos. Queremos ajudar, perceber e partilhar o desespero, a frustração ou a desilusão dos que tão perto estão de nós. É esta a árdua tarefa: manter um sorriso sincero quando se sabe de tudo isto.

Sim, quero quebrar a fronteira entre o adulto e a criança, quero ajudar o adulto que aos poucos passa para o patamar inferior com necessidade de apoio. Mas sei que tenho de o conseguir sozinha; terei de mostrar a minha força, aquela na qual confio como já um pouco adulta, para amparar a fraqueza de todos aqueles que, durante estes quase 20 anos, sempre fizeram tudo para me proteger.

Quero ser uma criança adulta. Ter a inocência da vida lá fora e a maturidade de uma filha que cuida dos problemas dos Pais.

Não no Natal... mas sempre.
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