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um blog de desabafos, alegrias e tristezas, revoltas e euforias, o meu espelho, com uma (agora) pitada de diletantismo.

domingo, novembro 14, 2004

Sábado de sol, passeio dos tristes por Portugal  

Catarina Júlio, minha estimada acompanhante nesta sábado aventureiro. Ela e o seu confortabilíssimo popó apanharam-me em casa depois do almoço e... lá fomos nós!

Sossegadinhas na faixa da direita apercebemo-nos que ninguém deve saber que a A8 é perigosa, ninguém deve ver as reportagens sobre morte na estrada, estão todos cegos e surdos, acham todos que Fiats e afins são carros seguríssimos e, sobretudo, têm um fetiche por cheirar o rabinho dos popós da frente quando vão a mais de 150Km/h. "Matem-se, se é isso que querem, mas deixem-nos em paz", pensámos.

Pouco menos de uma hora de caminho e vimos ao nosso lado uma placa que indicava 250m até à saída para Óbidos. Sim, uma placa ao nosso lado, estática, sem movimento consequente da velocidade. Estavamos de facto paradas na autoestrada, em fila, atrás das outras centenas de carros que tinham o mesmo destino que nós: o Festival Internacional do Chocolate. Desde essa placa até estacionarmos no (apinhado) parque, foi uma hora. Incrível...

Sinal vistoso. Bilheteira: 2€ a pulseira - oferta de um snack Nestlé... e lá fomos nós, muito ingenuamente, despejar os dois euros pela pulseirita, não foi?

A partir daí foi o descalabro em todos os sentidos. Caminhando - ou tentando caminhar - pelas ruelas, víamos apenas o topo das barraquinhas, porque a enchente não deixava ver mais, e o preçário, onde não constava absolutamente nada a menos de 1€. Procurando o interessante e o acessível tropeçámos constantemente nos carrinhos dos bebés, como se já não bastasse às pobres crianças serem arrastadas para o Colombo e o Vasco da Gama nas tardes chuvosas dos fins-de-semana.

Ah! Depois de andarmos uns 200 m em meia-hora lá encontrámos um recinto de exposição, onde finalmente nos obrigaram a mostrar a pulseira. Nova enchente que nada deixava ver - e pior, o que se via não interessava. Também não havia paciência para procurar outras exposições, porque enfim, ninguém é de ferro para aguentar tantos encontrões. Acabámos por não ver as famosas esculturas de chocolate, preservando porém a nossa inegridade física.

Finalmente alcançámos um espaço aberto, junto à muralha, onde a fome não permitiu esperar mais tempo por preços mais agradáveis. Rendemo-nos ao bolo de brigadeiro e a um soberbo chocolate quente. Poucos metros ao lado entrámos numa outra tenda - mais um dos poucos locais que exigiam a pulseira - e comemos um delicioso pão com chocolate, acabado de sair do forno, com uma massa de cozedura no ponto que arrasou connosco.

Pouco mais restava para ver. Nova aventura no regresso ao carro, onde tudo o que era fila se transformava num pandemónio que impedia qualquer espécie de circulação. Em suma, chocolate e muito povo português foram os ingredientes daquela tarde, em parte, agradável. De volta à viatura, porque o dia ainda não estava de todo concluído, fizemo-nos novamente à estrada com uma agradável condutora e um co-piloto, DJ de função secundária, de mapa numa mão e telemóvel na outra a tomar todas as providências para que o caminho não falhasse.

Certo, sabido e previsível é que fomos dar direitinhas à Golegã. Eram oito da noite e, sob uma mera vontade de conhecer a famosa feira, a verdade é que nenhuma das duas sabia como ela funcionava. Por entre ruas e ruelas, meias perdidas, acabámos por seguir, quais crianças a seguir as migalhas para chegar a casa, os betos que indirectamente nos guiavam ao centro. A prezada condutora estacionou o carro, saímos, fechámos bem os casacos e aventurámo-nos pelas ruas cujos elementos permanentes eram estrume no chão, 5ºC no ar e betos, muitos betos nas ruas.

Toca a sentar nos bancos da caravana de fast-food-noctívaga e a começar a segunda dose de alimentação precária do dia. "Sai duas bifanas e dois cachorros!", surgem colegas, amigos e assim se passa o início da noite. Logo depois, o Picadeiro: sim, já conhecíamos a gíria da equitação e podíamos dizer que estavamos no picadeiro, o centro do social, onde pisei muita bosta, onde a pobre Catarina levou com um encontrão de cavalo e onde vimos muitas pré-adolescentes de top da bershka (recordo que estavam 5ºC...) e cigarro na mão, muitos empregados simpáticos, muito movimento, muito fumo de castanhas, muito comércio, muita música (pese embora ficasse um pouco aquém da preservação da cultura nacional...) e, claro, muitos cavalos - e cavaleiros! Inclusivamente pudemos conhecer o cavalo de uma amiga da Catarina, lindíssimo, branco, de olhos azuis, com tranças e xadrez e um pêlo tão macio quanto o do meu coelhinho...

Passeámos, convivemos, apreciámos a moda local e a moda dos visitantes que queriam fazer-se passar por locais, fizemos uma ou outra compra artesanal, fomos rejeitadas por todos os restaurantes onde solicitámos a utilização das suas casas-de-banho, devorámos um algodão doce e sentámo-nos perto do Café Central a conversar. Ao frio, é certo, mas parece ter havido um certo motivo que nos fez esperar ali por qualquer coisa. É certo também que fazia-se tarde e queríamos vir embora, afinal já tudo tínhamos visto... quando começou a fase dos telefonemas, do churro com chocolate que a pretexo dos nervos me vi obrigada a comer, e do impasse entre ficar e ir, ficar e ir. Não houve álcool, o pingo caía do nariz gelado e continuávamos a pisar bosta involuntariamente, mas na realidade não conseguíamos parar de rir e fomos ficando. Com tantos destinatários telefónicos embriagados que nos enganavam dizendo que estavam a chegar e nos faziam esperar mais dez minutos e mais dez minuos e assim sucessivamente, nisto passaram duas horas, os dentes já tremiam e as pernas congelavam. Só voltaram a aquecer quando finalmente chegaram os "malditos", acrescidamente embriagados, que de nós ouviram gritos - dos quais hoje de manhã certamente já não se lembravam.

Para acalmar aviámos mais um pão com chouriço e finalmente fomos embora. "Não tem nada que saber, são 15 minutos em frente na rua à direita do Café Central"; mas efectivamente qualquer coisa se passou e andámos longos minutos sem reconhecer a rua, sem encontrar o carro. "Malditos!", gritávamos, enraivecidas e soltando gargalhadas ao mesmo tempo. Quando finalmente descobrimos o popó, ligámos o ar quente e derretemos ali sentadas, procurando forças para enfrentar a próxima aventura: como sair dali? Golegã, aquele labirinto, em nada ajudou, não fosse um simpático senhor a indicar-nos muito acertadamente o caminho para a A23.

Regressámos a Lisboa, três horas depois do previsto, numa viagem calma graças à bendita calmaria constatada na estrada. Com uma ou outra peripécia engraçada, uma ou outra indicação mais baralhada do co-piloto, um ou outro atchim... ali alimentámos um convívio final muito agradável. E como tudo é bom quando acaba bem... thanks, Cat! :)
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Comments:
Debora, foi desta que conheci o teu famoso blog. Gostei bastante. Continua!

Bjs***
 
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