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um blog de desabafos, alegrias e tristezas, revoltas e euforias, o meu espelho, com uma (agora) pitada de diletantismo.

terça-feira, outubro 19, 2004

Poças na calçada... 

Não sei porque tudo isto teve de acontecer assim. Será que "teve", mesmo? Podíamos ter dado outro rumo às coisas... ou não...

Sei que, quase dois anos depois, saí de casa sem um pingo de nervosismo, apenas observadora de uma manhã citadina de Outono. Debaixo do chapéu de chuva falava sozinha e interessava-me o facto de não ver as caras das outras pessoas, apenas os seus pés que se desviavam quando viam os meus a um metro de distância. Nos semáforos parava distante do alcatrão, escondida sob o meu chapéu, à espera da luz verde. Lá à frente, o ponto de encontro via-se cada vez mais perto.

De repente o meu isolamento foi quebrado. Com um frio molhado muitíssimo incómodo nos pés tive de enfrentar o momento que julgava já impossível de concretizar, por vontade e crença. Mas ali a realidade estava perante mim, não havia escapatória, tinha de enfrentá-la. E agora queria. Queria ver, ou olhar, mas não consegui fixar os seus olhos nos meus, nunca o consigo com ninguém. Alguma frustração, camuflada pela conversa fluente e demasiado superficial. A cada palavra dita seguia-se o silêncio, criando o mesmo pensamento telepático sobre aquilo que realmente queríamos dizer. Ainda assim, a fluência surpreendia-me, não gostava do que ouvia, mas gostava menos ainda de não gostar, de pensar assim, de ser intolerante como teimo em ser. Afinal, o tempo passa... as pessoas mudam, é natural. Eu certamente também mudei.

Não sei, não sei. Não consigo comparar uma amizade tão transparente, uma memória tão clara e ao mesmo tempo tão longínqua e nostálgica, com tudo aquilo que vi hoje e que está diferente. Tudo mudou e simultaneamente tudo parece intacto. De qualquer forma sei que, quando repetimos algo, ou o tentamos reviver, nunca o igualamos ao anterior. A menos que fosse possível retirar de nós todas as vivências que nos alimentaram durante este tempo. É por isso que desconheço o futuro, aquele que parecia não existir e que agora se aproxima sem piedade. Tenho pavor de ter vivido os 12 anos que vivi tão feliz, de os ter terminado com um silêncio que aos poucos me tranquilizou, e de agora ter de reencontrá-los, revivê-los, sabendo de antemão que nada será como antes!

Era aquela em quem eu me apoiava para tudo, e sem a qual aprendi a viver durante todo este tempo, mas hoje... hoje, que a senti ali, tão perto e tão longe... perdi-me.

No regresso nenhum chapéu de chuva escondeu o que eu dizia ou pensava. Estava despida para todos, com a minha palidez envolta por um sorriso nem sincero nem hipócrita. Esqueci o frio nos pés, voltei com a alma encharcada. Sinto-me só.
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