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um blog de desabafos, alegrias e tristezas, revoltas e euforias, o meu espelho, com uma (agora) pitada de diletantismo.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Anos citadinos 

Desde os tempos em que a Irene ia buscar-me ao Externato do Parque e voltávamos de metro para casa - naquelas carruagens feias e barulhentas onde não cabia ninguém e eu dava pela cintura das pessoas, amedrontada com tal mosntruosidade e apertava a mão da minha protectora - que eu sempre gostei de observar as coisas.

Até hoje. Passaram anos de idas no 18, onde atravessava a Maria Pia com medo dos drogados do Casal Ventoso e saía na Duque d'Ávila mas pondo-me à porta do autocarro já na Marquês da Fronteira com medo de não conseguir sair, e andando a pé no percurso interminável até casa, ferrando as mãos na mochila às costas e olhando para trás com medo dos violadores que eu não sabia o que eram; passei a viragem para a opção 9 + Metro, quando a preguiça e a corrida contra o tempo entranharam-se em mim e preferia sair à porta de casa; e ainda hoje, embora numa rotina menos vincada, faço o meu five-minutes-walking para a Faculdade, a diferentes horas do dia...

... e durante todo este tempo, que poderei englobar sensivelmente em 13 anos, sempre gostei de observar tudo em meu redor. Desde a cor das calças das pessoas no metro quando a minha visão não lhes alcançava a parte de cima, os senhores dos CTT ou os outros que corriam em motas de correio expresso pela 5 de Outubro fora, os velhotes e os seus queixumes quando usavam a Carris para percorrerem Campo de Ourique, os homens feios que cuspiam mesmo ao meu lado quando se cruzavam comigo na rua, os "senhores" das obras que eu não entendia por que se metiam sempre comigo com frases que me soavam mais estranhas por virem de um desconhecido do que propriamente pelo conteúdo... até às betas e aos betos que, fardados de Bershka e Billabong, puros meninos ricos, eram mal-criados com as velhotas no autocarro, aos funcionários dos Salesianos que encontrava e com quem conversava no caminho cansado para casa, aos mitras de argolas, boné e pastilha elástica bem visível que mesmo sem falar comigo me metiam nojo e horror... até aos títulos dos livros das senhoras e das revistas A5 das mulheres no metro, às buzinas e ao fumo do escape dos carros na Av. Berna que hoje me cansam demasiado, à correria frenética de toda a gente que por mim passa e que comigo já se confunde...

Porque eu começo a fazer parte deste mundo real, deste mundo urbano em que nasci e do qual aprendi a gostar, naquele em que a escola e o desporto e os transportes públicos e o barulho dos carros, juntamente com as aprendizagens que quem quer assimilar assimila, me prepararam para enfrentar as realidades.

Sinto que já vem aí outra geração, que já posso falar do "meu tempo", mas nem por isso fico incomodada. O tempo move-se connosco, a vida move-se com o tempo, e nós movemo-nos com a vida que criamos para nós, aquela que nos foi destinada, seja no campo ou na cidade, numa aldeia ou numa metrópole, no rotineiro ou no surpreendente.

Vivemos se soubermos observar, porque observando o Mundo é que o conhecemos com a confiança necessária para lhe pertencermos...
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