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um blog de desabafos, alegrias e tristezas, revoltas e euforias, o meu espelho, com uma (agora) pitada de diletantismo.

sexta-feira, julho 30, 2004

Pseudo-prémio 

Lembram-se de vos ter dito em tom melancólico e frustrado que tinha recebido um mail da Coolbooks onde verifiquei que o conto que escrevi para o Concurso Marta Tê não estava mencionado nos 30 vencedores? Pois bem, ontem recebi por correio uma Menção Honrosa ao meu texto. Isto porque não li esse e-mail com a atenção devida e acabei por falhar ao lançamento oficial do livro (que compilou os 30 melhores contos), na Praia do Meco, onde entregariam as menções honrosas, pelo que a minha acabou por vir mais tarde por este meio.
Não deixei de ficar satisfeita, quanto mais não fosse pela forma correcta como procederam do princípio ao fim do concurso. Não são os típicos concursos que, mal termina o prazo de "promoção", fingem que nunca existiram e não dão satisfações. Assim sendo, e uma vez que não tenho grandes informações sobre o livro (sei apenas que se chama "Contos de Verão"), deixo-vos aqui o meu texto, com o qual concorri, até porque vou de viagem e como é relativamente extenso sempre dá para se entreterem até eu voltar aos meus posts...! Obrigada :)

 
            Os tempos do mar
           
            Era Dezembro.
            Teresa adorava a praia, qualquer que fosse a estação do ano. Infelizmente, no Inverno, eram poucas as oportunidades que tinha de lá ir, já que vivia em Santarém. Fazia algum tempo que tirara a carta de condução e o avô Aquilino oferecera-lhe o seu carro, um Fiat muito antigo com uma cor indefinível. No Verão ela costumava percorrer com os amigos o litoral centro, acampando em São Martinho do Porto, no Baleal, na Foz do Arelho, na Nazaré e na Ericeira, mas raras vezes vinha a Lisboa.
            E foi nesse dia de Dezembro, gélido mas solario, que Teresa quis passar pela cidade das sete colinas. Aproveitou um fim-de-semana menos sobrecarregado de trabalhos académicos para rumar à capital, ao som dos barulhos que as peças metálicas do seu automóvel iam fazendo, quiçá soltando-se do lugar.
            A viagem foi rápida. Na verdade, a jovem de vinte e dois anos nem se apercebera dos largos quilómetros que ainda teve de percorrer para chegar à famosa Costa de Caparica. Nunca havia lá ido. A Ponte 25 de Abril deslumbrou-a de tal modo que mal prestou atenção à sua condução.
            Com as janelas abertas, apesar do frio, porque gostava de respirar ar fresco, Teresa conseguia ouvir gritos vindos da praça, “Olha o besugo e o linguado fresquinhos!!”, mas estava demasiado ansiosa para chegar à praia, então prosseguiu a marcha a bom ritmo, afastando-se da zona mais ou menos urbana.
            Da estrada alcatroada iam surgindo pequenas placas que indiciavam os nomes das diferentes praias. Não conhecendo a zona acabou por experimentar o caminho de terra batida que ia dar à praia da Riviera, porque o nome soou-lhe interessante. Estacionou num parque esburacado, onde apenas estava um outro carro, ainda mais velho que o seu.
            Ao trancar a porta, olhou em frente. Por entre as dunas e alguns arbustos avistava-se um suave rasgo de horizonte que a exaltou. Que saudades sentia daquela imagem!... Respirou fundo, espreguiçou-se e seguiu por um pequeno caminho em talhas de madeira. Do lado direito encontrou uma pequena casinha, do mesmo material, que numa das paredes tinha um papel plastificado, preso por um prego, onde se lia “Há caracóis”.
            Apesar da areia fria, tirou os sapatos e seguiu na direcção do mar. Há muito tempo que não o via, por isso admirou-o com solenidade. Sentou-se perto das pequenas ondas que via rebentar, na maré quase vazia, onde a areia estava ainda seca.
            Por vezes Teresa lamentava bastante por um dia ter começado a fumar, mas a verdade é que nestas situações um cigarro lhe parecia uma companhia formidável. Acendeu um e observou o que a rodeava. O céu estava totalmente limpo, de um azul lindíssimo. O frio, no entanto, era de gelar os ossos mas a jovem, precavida, vestira várias camisolas e agora até saboreava com prazer o vendo gélido que lhe batia na face. O mar estava calmo, o que era de estranhar, dada a altura do ano. Talvez por isso não se viam surfistas a aventurar-se por entre as ondas, calculou.
            De um lado e outro de si, Teresa avistava uma extensão de areal imponentíssima. Do lado esquerdo, o Cabo Espichel era de uma nitidez fabulosa; do lado direito, não precisava também de forçar a vista para conseguir distinguir toda a margem de Lisboa a Cascais.
            Reparou na brancura e limpeza da areia ao longo daqueles extensos quilómetros. Lamentou não ter trazido nenhuma caixinha onde pudesse depositar a beata do cigarro que, com o vento, queimara em menos tempo do que esperava. Então enterrou-a na areia  num gesto rápido e ressentido. Nessa extensão de areal contavam-se pelos dedos os vultos visíveis: que estivesse muito perto da jovem só se distinguia um homem, de velhice notável devido aos seus cabelos brancos, embora mostrasse uma aparência jovem pelos músculos rijos das suas pernas. Era pescador, a julgar pela cana e pelo anzol em que mexia. Seria provavelmente o dono do carro que fazia companhia ao seu, lá mais atrás.
            Depois de observar este ambiente que a fascinava e que no fundo a levara até ali, Teresa fixou o olhar no horizonte e reflectiu como se parasse no tempo. “É incrível como as épocas do ano mudam a vida das pessoas”, pensou. “Agora, no Inverno, sofremos com o frio mas parece que rendemos mais profissionalmente. O ritmo de vida urbano mantém-se em todas as alturas, tal como a vida pacata do interior é constante; mas o estado de esppírito das pessoas muda. No Inverno reflectimos mais, projectamos mais, trabalhamos mais, vivemos mais as fracções de segundo indesperdiçáveis, talvez por os dias serem mais curtos... Mas quando chega a Primavera dizem que as hormonas pairam no ar com muita densidade e que todos se exaltam, procurando novas experiências. A concentração no trabalho desvanece um pouco e a sede do calor aperta. Quando, às portas do Verão, os fins-de-semana começam a ser aproveitados para ir à praia, parece que já só nos preocupamos com o lazer e pensamos em Setembro com angústia e desagrado. As inquietações, os temas de conversa, as notícias nos meios de comunicação, tudo muda. Não se fala da inflação nem das cheias, mas das aglomerações algarvias, dos incêndios e das corridas aos centros de estética. Ninguém quer trabalhar; mas quando recomeça o ritmo que, supostamente, nos faz ser alguém na vida, as energias são todas dispendidas. Ou seja, por muito que se diga que no Verão é que há vida, é no Inverno que as pessoas brilham realmente. Deve ser o frio exterior que lhes refresca o espírito. Por outro lado, chegam aos grandes meses quentes e secos esbanjando forças, sorrisos e dinheiro para descarregar as impurezas do que restou do ano. Um ciclo inquietante, enfim...”
            Já retomando um pouco a realidade, deixando de olhar tão fixamente para o horizonte daquele mar calmo e magnificiente, a jovem terminou o seu curto pensamento concluindo que “quanto mais próximas as pessoas vivem do Equador, onde quase não se distinguem as quatro estações, mais equilibradas se devem tornar...”
            Só depois de conversar durante algum tempo com as suas ideias, Teresa se estendeu na pequena toalha que trouxera, lendo um livro que lhe haviam oferecido e ouvindo Nat “King” Cole, que adorava tanto como a praia. Assim permaneceu durante largas horas, não pensando sequer em comer e só parando de vez em quando para erguer a cabeça e reapreciar a paisagem. Sentia-se verdadeiramente fora do Mundo. Quando, de facto, o estômago lhe apertou e reparou que era tarde, guardou as suas coisas, lançou um último olhar nostálgico àquele mar e regressou a casa num ápice, divagando apenas quando refez a travessia na ponte em escassos minutos.

***

            - Traz  a garrafa de água, esqueci-me dela no banco – pediu Pedro a Teresa, enquanto fechava o porta-bagagem do seu carro.
            Fora uma excelente ideia. Pedro, Agostinho, Mariana e Luísa queriam muito passar um dia na praia para espairecer um pouco antes de começarem a estudar para os exames finais. Como naquele 29 de Maio o tempo já era de Verão, combinaram seguir a sua ideia e, ao comunicá-la a Teresa, foi ela quem sugeriu irem às praias da Costa. Não ia lá desde aquele dia de Inverno e sentia uma vontade enorme de voltar, de rever aquele espaço tão amplo. Os amigos, com quem costumava fazer os acampamentos no Verão, concordaram de imediato. Aceitavam sempre um desafio diferente e rumaram a Sul.
            Embora gostasse de variar, Teresa sentiu-se especialmente tentada a regressar à praia da Riviera, e para lá acabaram por ir. Passando pela casinha de madeira que a jovem já conhecia, Agostinho disse:
            - Deixem-me só comprar aqui uma sandes porque eu só trouxe duas e hoje sinto que vou ter fome o dia todo. Já têm sorte que não vos obrigue a sentar para comerem uns caracóis comigo.
            Os amigos riram-se, sabiam que o rapaz adorava comer. Depois de comprada a sandes, seguiram para a praia, onde se erguia a bandeira amarela.
            - Isto ao pé da Ericeira merece bandeira verde e bem verde! – exclamou Mariana.
            - Acredita – concordou Luísa. – Assim é o paraíso!
            Os amigos olharam em redor, tentando encontrar um local mais ou menos espaçoso onde pudessem estender as toalhas e estarem à vontade. Acabaram por ficar num círculo com menos de cinco metros de diâmetro, onde se apertaram apesar de animados. Enquanto as raparigas punham o protector solar em grandes camadas e se preparavam para apanhar algum sol, Pedro e Agostinho comeram de imediato uma sandes cada uma.
            Assim se fazia um dia de praia, naquela altura do ano, sobre o areal da Costa de Caparica. Os jovens em geral precisam especialmente de alguma comida e bebida, uma partida de cartas ou de futebol, um mar que cative a vários mergulhos e raios solares suficientes para um bom bronze, mas este grupo de cinco jovens era observador e conseguia apreciar outros aspectos. Teresa, especialmente, talvez por lembrar o dia em que ali estivera, num dia frio e silencioso, onde ninguém via ninguém com nitidez, isolou-se um pouco dos seus amigos e caminhou até à beira-mar, pensativa. Chegando lá, sentiu nos pés a temperatura amena da água e uma brisa suave batendo-lhe na cara. Sem aquele vento fresco não sobreviveria ao calor, enquanto que, há meses, receava que o mesmo vento lhe regelasse o corpo todo.
            Olhou para trás num gesto repentino de curiosidade. O impacto foi forte, não imaginava que a diferença com o que vira há uns meses fosse tão grande. As pessoas amontoavam-se por entre toalhas e chapéus de sol, parecendo não se preocupar com o evidente incómodo. Crianças brincavam com baldes e pás na areia, ora gritando, ora chorando, ora correndo por todos os lados aborrecendo os desconhecidos por quem passavam. “As crianças ainda se compreende”, pensou Teresa. Mas logo se surpreendeu mais ao ver grupos de jovens, pouco mais novos do que ela, a jogar futebol pertíssimo das pessoas, soltando os impulsivos palavrões típicos de uma jogada mal feita, fazendo a areia soltar-se do chão e cair mesmo em cima de casais adultos, alguns já mesmo idosos, nas suas toalhas e lancheiras... Ainda lhes saía uma ou outra expressão de desagrado, uma ameaça em alto tom de voz, uma lamentação pela juventude de hoje em dia que os jogadores ignoravam com muita má-criação... E eis que nesse instante a própria bola bate, com toda a força de um pontapé inconsequente, no peito de uma menina com os seus doze anos. Aflita para conseguir respirar, de lágriamas nos olhos envergonhou-se com o “desculpa lá” que o autor da brutalidade aproveitou para lhe dizer quando foi reaver a sua bola, indo embora no segundo seguinte.
            As observações atentas de Teresa ficaram por ali, quando sentiu por todo o corpo pingos de água muito desconfortantes, resultado de mais uma brincadeira de adolescentes que agiam como se mais ninguém para além do seu grupo ali estivesse. Revoltada e ao mesmo tempo admirada com a capacidade que aquela situação teve de, em poucos minutos, irritar a sua pacificidade, voltou para junto dos seus amigos na esperança de que a acalmassem.
            - O que foi, Teresinha? – perguntou Luísa, vendo a amiga aproximar-se com passos largos. – Estás com uma cara...
            - Fico pasma com a falta de civismo que as pessoas têm, principalmente as da nossa idade.
            - Também já tinha reparado – concordou Pedro, jogando duas cartas na toalha. – Isto parece uma selva, mas pelo que se vê as pessoas não se preocupam muito com isso.
            - Mas porque ficaste assim agora? – quis saber Agostinho, espantado com a indignação de Teresa. – És sempre tão calma, e além disso isto acontece em todo o lado, não é só nesta praia...
            A jovem quis certificar-se do que Agostinho dizia, olhando então para ambos os lados da praia e constatando que, realmente, o aspecto da chamada “lata de sardinha” era homogéneo ao longo de toda a costa. Lembrou-se também que, nas outras praias que costumava frequentar com os amigos, o cenário era semelhante, sim.
            - Não sei o que se passou comigo. Talvez por vir aqui pela primeira vez num Verão, depois de ter ficado encantada com a paisagem, no mesmo lugar, em Dezembro, tive vontade de ver tudo melhor, de comparar... – lamentou ela, fazendo uma pausa para olhar de novo em redor - e pensar em tudo isto.
            - Oh amiga, não fiques assim agora! Depressa te vais aperceber de que isto é uma ocorrência constante. Tens razão, é horrível ver que ninguém se queixa e que todos convivem na mesma salganhada, mas o que se poderá fazer? Nada. A civilização evoluiu assim, faminta de vivências, pronta a experienciá-las em quaisquer circunstâncias. Vá, deita-te aqui ao meu lado que o calor está perfeito, fica-se mesmo bem aqui – sugeriu Mariana.
            Teresa aceitou o convite, desesperada por não conseguir livrar-se do sentimento estranho que a assolava. Pouco tempo depois estava a dormir.

            As três raparigas acordaram à mesma hora e pela mesma razão. Sirenes ouviam-se junto à água, juntamente com gritos de pessoas que se aglomeravam na zona. Sem precisarem de falar, acorreram com nervosismo à zona da multidão, querendo ver o que se passava.
            - Esta gente não tem cuidado nenhum! Cambada de irresponsáveis! E daltónicos, pois claro! Então não vêem a cor da bandeira?! – gritava uma mulher ali perto, consternada.
            - Hilda, ninguém sabe o que se passou. Acalma-te, já cá estão os bombeiros. Vai correr tudo bem – disse-lhe um homem, provavelmente o seu marido.
            - Não digas tolices, António– continuava Hilda. Então não vês o tempo que estes senhores relaxados demoraram a chegar? Já lá vai meia-hora!
            - Já é muito bom que tenham vindo, mulher. A época balnear ainda não começou, a bandeira amarela é obra de alguém com muito bom-senso e os bombeiros não tinham sequer obrigação de cá vir – replicou António.
            Assustadas, as três jovens não cessavam de olhar à volta, tentando descobrir o que acontecera em concreto e procurando os dois rapazes. Foi então que Mariana avistou Pedro e foi ter com ele. Ao ver a cara do amigo, pálida de terror, um gigante arrepio percorreu-lhe a espinha e, adivinhando o sucedido, engoliu em seco e abanou Pedro, aos gritos.
            - O que aconteceu?! O Agostinho, Pedro? Onde está o Agostinho? Fala!
            Pedro, de olhos muito abertos, fez um esforço para explicar:
            - Vocês estavam a dormir... eu e o Agostinho fomos à água, estava muito calor... A dada altura ele disse-me que estava a sentir-se mal e eu tentei chegar-me a ele, mas ainda estava um pouco longe... uns quatro metros... A corrente... a corrente foi-nos afastando cada vez mais e comecei eu a ficar aflito para nadar... foi tudo muito rápido! Não sei como consegui chegar a terra e... e comecei aos gritos para um surfista que ali estava perto... o Agostinho estava quase a afogar-se, só gritava e chapinhava... e o surfista conseguiu apanhá-lo e trazê-lo... mas parece que ele já estava inconsciente. Eu tentei, Mariana, mas também fiquei com medo... eu não conseguiria apanhá-lo, a corrente estava muito forte... mas eu queria, Mariana!... – desabafou Pedro aos soluços, já cheio de lágrimas a correrem-lhe na face. A amiga abraçou-o, sem saber o que pensar.
            Uma atitude de maior determinação só apareceu quando Luísa e Teresa chegaram.
            - Já sabemos por alto o que se passou – disse Luísa com rapidez. – Ele está ali com os bombeiros, não fiquem aí parados e venham!
            Todos a seguiram correndo, empurrando quem viesse pelo caminho, ansiosos por ver o estado do amigo.
            - Só vocês é que estão com ele? – perguntou um dos bombeiros, junto à carrinha.
            - Sim – respondeu Pedro de imediato, ainda lavado em lágrimas.
            - Alguém sabe se ele comeu antes de ir para a água?
            Os amigos olharam uns para os outros, reconhecendo o mesmo pensamento entre todos.
            - Ele come muito, sabe... e realmente vi-o comer, mas talvez uma hora antes de se molhar – informou Pedro, que estivera com Agostinho o tempo todo.
            - Era o que se previa que dissessem. Escutem: o vosso amigo está inconsciente, embora respire. Provavelmente teve sim uma paragem de digestão, que piorou com a ingestão de água do mar. Vamos levá-lo para o hospital, mas... preparem-se, o estado dele parece grave.
            As três jovens não se contiveram e começaram a chorar com pavor, mas Pedro já não conseguia manifestar qualquer expressão. Apenas disse com firmeza:
            - Eu vou com ele. Teresa, tira as chaves da minha mochila e leva tu o carro. Segue-nos, mas vai com calma! Não podemos perder a cabeça.

            Já era de noite, no hospital, quando o médico finalmente trouxe notícias de Agostinho. Na verdade, nem precisou de falar: o seu olhar dizia o pior. Quando, de facto, lamentou a morte do jovem, em palavras frias de tão directas, a alma dos amigos pareceu cair-lhes ao chão.
            Teresa nunca estivera tão confusa na sua vida. Um torbilhão de ideias atravessava-lhe a mente sem lhe dar hipótese de reagir. Só conseguia pensar que fora ela a sugerir a ida à praia – àquela praia – e fora devido ao seu mal-estar caprichoso que adormeceu e deixou os amigos sozinhos, não podendo servir de ajuda na altura necessária. Tudo porque quis divagar naquele dia de Dezembro e hoje quisera reavivar a sua memória. Sentia-se terrivelmente culpada pelo amigo que agora estava... morto. Morto! Ainda não queria acreditar.
            Não valera a pena ter sido uma observadora crítica até àquele dia. Tudo o que pensara sobre o mundo, orgulhosa das suas brilhantes conclusões, espezinhava-lhe agora a alma, tornando tudo uma ninharia ingénua perante aquela realidade crua. Na televisão não eram tratados os incêndios e as corridas aos centros de estética, mas a contagem dos mortos nas praias portuguesas que então arrancava com um número, ainda antes do Verão.
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